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terça-feira, 6 de julho de 2010

Auto-retrato da Flávia

Antítese

Sou miúda, sou rapaz
Sou o caos, sou a paz
Sou a flor, sou o jardim,
Mas não sei bem se é assim
Sou o claro, sou o escuro
Sou a desilusão e o orgulho
Sou a luz, sou a sombra
De alguém que não se quer mostrar ao mundo
Sou a noite, sou o dia
Transpiro fantasia
Sou a plateia, sou a canção
Onde as minhas palavras vão em vão
Sou o tudo, sou o nada
Sou rejeitada
Sou simpática mas não doçura
Nem bela, nem segura
Sou a diferente entre os diferentes
Sou a estranha entre os iguais
Sou um trevo de quatro folhas
Porque os de três são banais
Sou um ponto preto num quadro branco,
E uma miúda sem encanto
Sou um talento imundo
Perdido no obscuro
Resumindo e concluindo,
Sou a antítese do mundo.


Flávia Sousa
Nº7/10ºH

Auto-retrato da Daniela Rosa

Sim, sou eu. Sou aquela que tu viste de olhos verdes, que te abraçou. Os meus braços deram a volta ao teu corpo, o meu queixo tocou a tua testa, os meus cabelos cobriram-te o rosto e o meu coração ficou colado ao teu. Pinto-me de branco, azul, verde e cor-de-laranja nessa tela vazia que aos poucos se vai completando.
A minha vida já viu tempestades, já abriu caminhos, já encontrou felicidade e, agora, que vivo o presente penso como será o futuro. Não quero estar aqui, aqui com esta idade! Sinto que dar a mão e abrir o coração é uma mais valia para o resto da multidão, embora não esteja na minha lista de qualidades vai ganhando algum sentido nas minhas conformidades. Rezingona e pouco amável determina o topo de más qualidades, já a timidez suporta tudo o resto e perde a sua vez e igualdade. Esqueço o resto e sigo em frente, percorrendo a ponte do meu destino que me liga a um talento espontâneo.

Daniela Rosa, Nº8, 10ºC

Auto-retrato da Nádia

Um auto-retrato. Retrato. Auto. “O que será?” – pensava ela.
Nunca lhe tinham explicado tal coisa.
Não era muito culta no que toca às histórias de Portugal nem às matemáticas mas o Português e o Inglês certamente eram o seu forte. Adorava palavras caras e saber todos os seus significados pois como amante da escrita gostava de variar os termos.
“Como é que nunca pensei no que poderia ser um auto-retrato?” – falava ela sozinha antes de dormir.
A verdade é que a maior parte do seu tempo ela dedicava o ao namorado por quem fazia tudo e isto mostra-nos algumas das suas qualidades: apaixonada, lutadora, mas também andava sempre de cabeça no ar.
Ela gostava muito de pensar acerca do futuro e tinha muitos sonhos, alguns disparatados mas talvez fossem esses que lhe traziam objectivos e caminhos a seguir, não se importava com o tempo que iria levar nem com o quão difícil poderia ser atingi-lo, ela apenas seguia em frente e lutava por tal.
“Bem, se eu chego à escola e digo que não sei o que é para fazer ainda vão gozar comigo.” A Nádia gostava de fazer troça dos amigos, não com más intenções mas em tom de brincadeira. Na maior parte das vezes todos se riam incluindo a pessoa afectada mas outras, todos olhavam num tom de «epa acabaste de perder uma boa oportunidade para estar calada!»
Depois de pesquisar na Internet e acabando por ficar na mesma incógnita acabou por pensar que … “secalhar é para tirar uma fotografia a mim mesma e eu continuo com esta roupa ridícula e sem poses planeadas! O que é feito da minha linda máquina?” – Sim, tinha a mania que era fotógrafa e modelo ao mesmo tempo, tinha 2 pen com mais de mil fotografias em casa, na escola, na praia, na rua, em todos os sítios que se pode imaginar. Imensas poses, penteados, e roupas; a fotografia sempre foi uma das suas grandes paixões.
O que a Nádia mais fotografava era a sua pessoa mas o que lhe dava mais prazer era sem duvida fotografar momentos seus com o namorado e assim, quando não tinha nada para fazer ou quando se sentia mais sozinha ia ao computador e ficava horas a decidir qual delas ia editar para pôr como fundo do ambiente de trabalho e ficava ali horas a ver o quão perfeito ficavam juntos.
Encontrei-a a ouvir musica e perguntei-lhe:
- Ouve lá, não tinhas um portfolio para entregar?
- Sim, tenho. Mas há aqui um ponto que não percebo e como não consigo imprimir o que preciso, amanhã tento fazer o que me falta.
- Está bem. Mas baixa o volume e canta mais baixo, o pessoal cá em casa também tem vida. – Disse-lhe.
A Nádia adorava cantar, no carro, ao computador, em casa, e como escuteira, na missa. O facto de ter entrado para os escuteiros fez com que conseguisse elevar a sua voz a notas que não conseguia fazer a cantar sozinha. Fazia de cantora só em hobbie porque sabe que só o namorado, a mãe e a madrinha gostavam da sua voz e também porque para ser uma cantora de verdade ainda tinha muito para percorrer.
No final da noite, a Nádia foi-se deitar e eu vi que ela ainda não tinha chegado à conclusão do que era um auto-retrato, e pensei que se não lhe posso dar a mota e a sua licença que ela tanto quer e os pais não autorizam, vou ajudá-la e escrever o seu auto-retrato; sei que quando ela o ler vai querer elaborar um outro para mostrar que também sabe mas não me importo, é algo que lhe vai dar gosto de fazer.

“Um auto retrato é quando tu retratas por palavras parte ou total do teu interior e do teu exterior. Demonstras parte de ti.
Fiz o teu enquanto dormias.
Espero que gostes.

O teu eu.”
20 de Outubro de 2009

Nádia Eloy, Nº18, 10ºC